Quando um estúdio tenta algo fora da sua zona de conforto, geralmente é motivo de expectativa. Blades of Fire, o novo RPG de ação 3D da MercurySteam — conhecida por Metroid Dread e por reinventar Castlevania em gerações anteriores — tenta inovar ao colocar o jogador no papel de um ferreiro que cria suas próprias armas letais. A proposta soa intrigante no papel — e em partes até funciona — mas, no geral, o jogo se perde em sua narrativa morna e em um combate que raramente empolga.
HISTÓRIA
A história gira em torno de Aran, um cidadão comum que adquire um martelo lendário e se vê em meio a uma jornada para impedir que a rainha destrua o reino. Embora a premissa tenha potencial, a execução falha em criar impacto emocional. A trama segue caminhos genéricos, e o roteiro raramente surpreende.
Os personagens secundários também não ajudam: Adso, o escriba que acompanha Aran, deveria ser o contraponto intelectual ao protagonista, mas acaba funcionando apenas como expositor de tutoriais óbvios e de piadas sem graça sobre o tamanho do companheiro. A relação entre os dois tenta soar como uma amizade antiga, mas parece forçada, já que eles acabaram de se conhecer.
Outros personagens, como Glinda — a forjadora excêntrica que vive em um besouro voador — e Arwen — uma jovem impetuosa que surge no final do jogo e, convenientemente, se torna essencial — reforçam a sensação de estarmos vendo versões menos carismáticas de figuras de outros títulos. A semelhança com God of War Ragnarök chega a incomodar: Aran é um Kratos genérico, Adso faz as vezes de Atreus, e até uma cobra gigante entra em cena. A familiaridade com esses arquétipos não seria um problema se Blades of Fire conseguisse dar seu próprio tom, o que não acontece.







JOGABILIDADE
Se há algo em que o jogo realmente brilha, é no sistema de criação de armas. Desde o início, Aran pode forjar equipamentos com base nos inimigos derrotados, desbloqueando projetos únicos. Por exemplo, após eliminar dezenas de esqueletos, você passa a fabricar uma claymore inspirada na arma deles; já ao derrotar alguns soldados da rainha, obtém o projeto de uma lança com dois tipos de ataque: perfurante e cortante.
A forja é mais que um menu: é um minigame interativo onde você molda o metal manualmente. A primeira impressão é confusa, devido à ausência de instruções claras, mas após algumas tentativas o processo se torna viciante. O visual lembra um equalizador de áudio, onde você precisa ajustar as “barras” metálicas com marteladas precisas. Quanto mais exato for o golpe, maior a durabilidade e eficácia da arma — algo que impacta diretamente o gameplay.
Outro detalhe interessante é a possibilidade de customizar partes específicas das armas, como o tamanho da lâmina, o peso do cabo e até adicionar pomos. Essas modificações afetam o desempenho de Aran, como o consumo de stamina e a velocidade de esquiva. Você também pode nomear suas criações, dando mais personalidade a elas.
Apesar da grande variedade de armas — são 35 no total —, o combate em si decepciona. O sistema se resume a escolher qual parte do corpo do inimigo você quer atingir: um botão para a cabeça, outro para o lado direito, outro para o lado esquerdo e assim por diante. Existem ataques carregados que causam mais dano e podem mutilar oponentes, mas o impacto visual se repete tanto que rapidamente perde o efeito.
Não há combos nem variação estratégica nos golpes. Bater alternando lados ou martelar um só botão gera praticamente o mesmo resultado. O que salva o sistema de cair no completo tédio são as janelas de contra-ataque após uma esquiva ou defesa perfeita — momentos breves, mas que exigem algum timing e atenção.
Mais adiante, o jogo até tenta adicionar complexidade com inimigos que possuem resistências em partes específicas do corpo, ou que mudam seus pontos fracos durante o combate. Ainda assim, a maioria dos oponentes são humanóides com padrões fáceis de prever. Apenas os trolls se destacam por exigirem duas etapas para serem derrotados: primeiro esvaziar uma barra de vida, depois amputar um membro com um ataque carregado. Fora isso, os confrontos caem na repetição.
Outro ponto fraco está no sistema de navegação. Há muitos segredos escondidos pelo mapa, como santuários que ampliam a personalização de armas, baús com melhorias de cura e itens cosméticos. Porém, a forma como o mapa é apresentado, sem diferenciação de níveis de altura, torna a exploração frustrante. É comum vagar sem rumo até encontrar o local certo — ou desistir antes disso.
Embora seja possível marcar pontos no mapa e criar rastros coloridos no ambiente para se guiar, esse recurso é limitado e não substitui um sistema de navegação mais claro. É um jogo que quer incentivar a exploração, mas não oferece ferramentas adequadas para isso.
- Jogo disponibilizado pela 505 Games
Blades of Fire
Blades of Fire é um jogo que tem boas ideias, especialmente em sua forja criativa e nos sistemas de progressão de armas. No entanto, a falta de uma história envolvente, de personagens cativantes e de um sistema de combate mais variado impede que ele atinja todo o seu potencial. É uma aventura que começa com faíscas, mas que apaga antes de incendiar de verdade.
