Imagine um mundo onde o único twitter que você ouve é o canto dos pássaros do lado de fora da janela. Uma supertempestade solar que interrompe a infraestrutura digital humana pode nos levar de volta à era analógica, em um cenário que já está sendo chamado de “apocalipse da internet”. Apesar de soar como ficção científica, especialistas dizem que essa ameaça é real e poderia ocorrer a qualquer momento.
O termo “apocalipse da internet” recentemente ganhou força nas mídias sociais, desencadeando uma onda de desinformação sobre supostos avisos inexistentes da NASA e especulações em torno do futuro de um mundo hiper conectado sem conexão. A ideia seduziu desde sobrevivencialistas até usuários do Reddit e escritores de juízo final.
Vivemos em um mundo em que quase todos os aspectos da vida estão ligados à internet. Uma interrupção em grande escala poderia ter consequências desastrosas. Essa preocupação não é infundada, uma vez que uma forte tempestade solar realmente tem o potencial de causar essa interrupção generalizada. No entanto, tais eventos são raros e nunca ocorreram na era digital, relatou o The Washington Post na sua edição desta quarta-feira (28).
Para se ter uma ideia da gravidade, a última tempestade solar conhecida como Evento Carrington, ocorrida em 1859, provocou incêndios em linhas telegráficas e operadores foram eletrocutados. Em 1989, uma tempestade solar aniquilou a rede elétrica de Quebec por horas. Já em 2012, a humanidade quase enfrentou outra tempestade, que por sorte não atingiu a Terra.
À medida que o sol, que tem ciclos de aproximadamente 11 anos, entrará em um período particularmente ativo conhecido como “máximo solar” em 2025, aumentam as preocupações de que nosso mundo interconectado não esteja preparado.
Sangeetha Abdu Jyothi, professora de ciência da computação na Universidade da Califórnia, em Irvine (EUA), cujo artigo “Solar Superstorms: Planning for an Internet Apocalypse” popularizou o termo, alerta para a falta de preparo da infraestrutura digital para lidar com uma situação como essa.
Segundo a professora Jyothi, uma forte tempestade solar poderia afetar a infraestrutura de grande escala, como cabos de comunicação submarinos, prejudicando a conectividade de longa distância. As latitudes do norte, onde se concentra grande parte da infraestrutura de internet, são particularmente vulneráveis.
Essas interrupções poderiam durar meses, dependendo da escala e do tempo necessário para reparar os danos. O impacto econômico de apenas um dia de conectividade perdida, somente nos Estados Unidos, é estimado em mais de US$ 11 bilhões, segundo a NetBlocks, uma observadora da internet.
Apesar do impacto potencial, Jyothi lamenta o uso do termo “apocalipse da internet” em seu artigo, alegando que instiga um pânico desnecessário e que a responsabilidade pela preparação para um evento desse tipo recai sobre governos e empresas.
Recentes descobertas do Parker Solar Probe, uma sonda da NASA lançada em 2018, acirraram ainda mais o debate sobre tempestades solares. Pesquisadores apresentaram novas evidências sobre a origem dos ventos solares, resultado de um fenômeno chamado “reconexão magnética”.
Ainda que a pesquisa não tenha focado diretamente nas tempestades solares, as descobertas têm implicações mais amplas. Ejeções de massa coronal, expulsões de plasma e campos magnéticos que podem gerar tempestades solares danosas, provavelmente fazem parte desse mecanismo, e entender melhor a “reconexão magnética” pode aumentar nossa capacidade de previsão do clima espacial.