Durante muito tempo, questionou-se o papel das redes sociais na alimentação da polarização política. Ativistas e reguladores temiam que os algoritmos dessas plataformas, ao promoverem postagens politicamente tóxicas e teorias da conspiração, estivessem aprofundando as divisões ideológicas na sociedade. No entanto, um novo estudo extenso, realizado com a cooperação do Facebook, sugere um cenário diferente.
A pesquisa, desenvolvida em colaboração com a Meta (antes conhecida como Facebook), consistiu em alterar a distribuição de postagens para centenas de milhares de usuários. A Meta, preocupada com as alegações, abriu uma enorme quantidade de dados internos em 2020 para que acadêmicos universitários pudessem estudar o impacto das redes sociais na eleição presidencial.
Os resultados iniciais desta investigação confirmam que as plataformas da empresa desempenham um papel crítico na condução dos usuários para informações partidárias com as quais eles provavelmente concordarão. Contudo, questionam a suposição de que estratégias de desestimulação da viralidade e engajamento nas redes sociais poderiam influenciar substancialmente as crenças políticas das pessoas.
“Os algoritmos são extremamente influentes na experiência dos usuários na plataforma”, afirma Joshua Tucker, codiretor do Centro de Mídia Social e Política na Universidade de Nova York e um dos líderes do projeto de pesquisa. “Contudo, observamos pouco impacto desses algoritmos nas mudanças das atitudes políticas das pessoas e na participação autorrelatada em torno da política”.
Os estudos, publicados na Science e na Nature, são frutos de uma parceria única entre pesquisadores universitários e analistas da Meta para estudar como as redes sociais afetam a polarização política e o entendimento das pessoas sobre notícias, governo e democracia. Os pesquisadores, que contaram com os dados da Meta e a possibilidade de realizar experimentos, analisaram essas questões durante o período que antecedeu a eleição de 2020.
Como parte do projeto, os pesquisadores alteraram os feeds de usuários do Facebook e Instagram para ver se isso poderia mudar suas crenças, conhecimentos ou polarização política. Em geral, concluíram que essas mudanças tiveram pouco impacto.
Em um experimento, os pesquisadores estudaram o impacto de exibir conteúdo em ordem cronológica aos usuários, ao invés do algoritmo usual da Meta. Descobriram que o feed cronológico era menos envolvente, mas pouco afetava a polarização política.
Em outro experimento, os pesquisadores “ampliaram o espectro” de notícias vistas pelas pessoas. Incluíram no feed de notícias de alguns usuários mais notícias de fontes partidárias ou extremistas. Esta mudança também teve pouco efeito nas atitudes ou comportamentos políticos.
A Meta tem argumentado que a polarização política começou a aumentar muito antes do surgimento das redes sociais. “Há poucas evidências de que as redes sociais causem uma polarização ‘afetiva’ prejudicial ou tenham qualquer impacto significativo nas atitudes políticas”, disse o presidente de Assuntos Globais da Meta, Nick Clegg.
Apesar dos resultados, críticos das empresas de tecnologia e alguns pesquisadores alertam que as descobertas não isentam essas empresas do papel que desempenham na amplificação de divisões e teorias da conspiração. “Estudos que a Meta endossa, que olham de maneira fragmentada para pequenos períodos de tempo, não deveriam servir de desculpa para permitir que mentiras se espalhem”, argumentou Nora Benavidez, conselheira sênior da Free Press.
Joshua Tucker concorda que as redes sociais têm problemas que precisam ser abordados, mas argumenta que as soluções podem não ser tão simples como muitas pessoas acreditam. A pesquisa mostrou que, quando se trata de questões menos polarizadoras ou quando as pessoas não têm opiniões prévias fortes, as redes sociais podem ter um impacto significativo.
Os pesquisadores planejam continuar seus estudos, observando outros aspectos do uso das mídias sociais, incluindo como as plataformas podem ser usadas para promover a democracia e combater a desinformação. “Este é apenas o começo”, disse Tucker. “Há muito mais a aprender sobre como as mídias sociais afetam a sociedade e a política”.
Fonte: The Washington Post