Uma questão intrigante surgiu com o crescente uso de aplicativos de aprendizado de idiomas: será que eles têm o poder de fortalecer nossa cognição e combater a solidão, especialmente em adultos mais velhos? Uma matéria do The Wall Street Journal explorou exatamente essa questão.
Tradicionalmente, aprender um novo idioma tem sido associado a um atraso no início da demência. Hoje, com a popularidade crescente de aplicativos como Duolingo e Babbel entre os idosos, a questão passou a ser: um aplicativo interativo de idioma pode realmente ajudar?
Não é preciso dominar um idioma para sentir os benefícios. A aprendizagem estimula novos caminhos neurais que contrariam a deterioração relacionada à idade. “O importante é praticar intensamente e se envolver ao máximo”, observa John Grundy, professor assistente de psicologia na Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos (Iowa State University).
Grundy e sua equipe, em 2020, conduziram uma análise sobre bilinguismo e declínio cognitivo. Os resultados? Bilingues apresentaram um atraso de quatro a seis anos nos sintomas de demência quando comparados a monolíngues.
Não são apenas os jovens que estão colados em seus aplicativos de idiomas. Adultos mais velhos tendem a usá-los consistentemente, buscando tanto treinamento cerebral quanto preparação para viagens. Afinal, a conveniência desses aplicativos é inegável, principalmente para os idosos, proporcionando aprendizado sem a necessidade de aulas presenciais ou viagens ao exterior.
Lenore Rosenbluth, 77 anos, de Roxbury, Nova Jersey, é um exemplo vivo do impacto positivo desses aplicativos. Diagnosticada com uma rara desordem neurológica, Rosenbluth utiliza o Duolingo diariamente, afirmando que isso a ajuda a se sentir menos solitária.
Pesquisas recentes apoiam essas reivindicações. Jed Meltzer, cientista do Baycrest Hospital em Toronto, descobriu que a aprendizagem de um idioma por meio de aplicativos é tão eficaz quanto usar aplicativos de treinamento cerebral dedicados, como o BrainHQ.
Apesar das evidências positivas, há precaução na indústria. Após polêmicas envolvendo reivindicações do aplicativo Lumosity, desenvolvedores são cautelosos ao afirmar que seus produtos podem atrasar a demência.
Há ceticismo no meio acadêmico também. Pesquisas da University College London, universidade pública em Londres, no Reino Unido, sugerem que, embora o bilinguismo possa oferecer benefícios, é difícil provar que o aprendizado de idiomas foi a causa direta desses benefícios.
Grundy destaca que sua revisão levou em consideração variáveis demográficas e outras influências potenciais sobre o declínio cognitivo. Uma de suas pesquisas mais recentes explora como o aprendizado de idiomas influencia a substância branca do cérebro, que atua como um sistema de comunicação neural. Preliminarmente, foi observado que os bilíngues têm conexões de substância branca mais robustas.
No entanto, o consenso geral é que, embora a aprendizagem de idiomas possa oferecer benefícios cognitivos, o exercício físico continua sendo a ferramenta mais eficaz para manter a saúde cerebral. Meltzer reitera: “Os aplicativos podem não ser a solução definitiva para aprender idiomas, mas são certamente adequados para nossa rotina moderna, quando estamos constantemente conectados aos nossos dispositivos.”
Por fim, enquanto a eficácia completa dos aplicativos de aprendizado de idiomas ainda é um tema de debate, uma coisa é certa: não há desvantagem em aprender um novo idioma. Seja para aprimoramento cognitivo, combate ao isolamento ou simplesmente pelo prazer de aprender.