A crescente crise climática tem levado cientistas a considerar soluções inovadoras e, por vezes, controversas. Recentemente, mais de 200 especialistas assinaram uma carta, conforme relatado pelo portal The Verge, defendendo uma investigação “responsável” sobre a capacidade dos oceanos de reter o dióxido de carbono que aquece o planeta.
Historicamente, os oceanos têm sido aliados silenciosos na luta contra as mudanças climáticas, absorvendo e retendo uma quantidade significativa de carbono. De fato, os oceanos retêm cerca de 50 vezes mais carbono do que a atmosfera. Mas, e se essa habilidade natural pudesse ser potencializada?
A ideia é intrigante e já atraiu a atenção de startups que estão desenvolvendo tecnologias para sequestrar ainda mais CO2 nos oceanos. No entanto, a carta dos cientistas ressalta que ainda há muito que não sabemos sobre os potenciais impactos dessa intervenção.
Os riscos são reais. “Embora as abordagens de remoção de dióxido de carbono baseadas nos oceanos tenham um enorme potencial, também existem riscos”, alerta a carta. A falta de informações suficientes sobre a eficácia e os impactos de tais abordagens torna difícil tomar decisões informadas sobre sua implementação em larga escala.
Existem várias estratégias em consideração. Algumas são naturais, como a restauração de ecossistemas costeiros, enquanto outras são mais tecnológicas, como as fábricas piloto na Califórnia, nos Estados Unidos, projetadas para filtrar o CO2 do oceano.
No entanto, é essencial lembrar que essas soluções não substituem a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, há preocupações legítimas sobre como essas novas tecnologias podem afetar a vida marinha.
A carta pede testes de campo controlados e revisão por terceiros, além de salvaguardas contra “consequências não intencionais ou adversas”. A inclusão de diferentes partes interessadas também é vista como crucial.
Grandes nomes das ciências climáticas e ambientais assinaram a carta, incluindo David King, ex-conselheiro científico do governo do Reino Unido, e James Hansen, ex-cientista climático da NASA.
Os oceanos já estão sofrendo com as mudanças climáticas. Por exemplo, uma onda de calor no Atlântico está devastando os recifes de coral da Flórida. A situação é tão grave que os cientistas estão retirando corais do mar para protegê-los em laboratórios terrestres.
Débora Iglesias-Rodriguez, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, que assinou a carta, expressa a urgência da situação: “Tenho visto estes declínios massivos na saúde dos oceanos… Não fazer nada é antiético”.
Pode parecer prematuro potencializar um eventual debate sobre o tema, mas, enquanto os cientistas buscam novas formas de usar os oceanos para combater as mudanças climáticas, a mensagem é clara: “Precisamos pelo menos descobrir os riscos e os benefícios, ver se podemos ajudar a resolver o problema que criámos”, como advertem os signatários do texto.