A cruzada midiática de um bilionário em favor da Inteligência Artificial

Empresário e investidor quer moldar a narrativa em torno das IAs, afastando os temores apocalípticos e destacando o que classifica como “benefícios”

Reid Hoffman, empresário bilionário americano e investidor de capital de risco, tem mostrado uma preocupação crescente em relação à Inteligência Artificial (IA), mas não pelos motivos que você pode imaginar. Hoffman teme que a narrativa negativa de um “apocalipse” alimentada pela IA seja prejudicial e deseja, em vez disso, destacar suas virtudes.

Nos últimos meses, Hoffman tem se engajado ativamente na promoção de uma perspectiva positiva sobre a IA por meio de blogs, entrevistas na TV, podcasts, um canal no YouTube e até um livro intitulado “Impromptu”, coescrito com o GPT-4, a controversa criação da OpenAI. O objetivo é preparar o terreno para quando a discussão em torno da Inteligência Artificial evoluir para um debate mais coerente e regulamentado.

Para Hoffman, os benefícios potenciais da IA são consideráveis, especialmente em áreas como saúde e educação, onde a tecnologia pode agir como um assistente médico ou tutor pessoal. Ele aponta para isso como parte de uma “responsabilidade” que a sociedade precisa considerar.

Um dos principais players do setor de tecnologia, Hoffman, de 55 anos, integra o conselho de 11 empresas de tecnologia e oito organizações sem fins lucrativos, e também investiu em pelo menos 37 empresas de IA. Ele é membro de um grupo de ex-executivos do PayPal, que inclui Elon Musk e Peter Thiel, ambos líderes notáveis no campo da IA.

Apesar de haver divergências entre os líderes tecnológicos sobre os riscos e oportunidades da IA, Hoffman está confiante de que os problemas decorrentes da Inteligência Artificial – como perda de empregos e possíveis perturbações econômicas – podem ser resolvidos com mais tecnologia. “As soluções vivem no futuro, não consagrando o passado”, diz ele.

No entanto, esse otimismo encontra resistência entre um público cada vez mais ciente dos potenciais perigos da tecnologia, especialmente à luz dos problemas recentes, como a disseminação de desinformação nas mídias sociais. Para Oded Netzer, por exemplo, professor da Columbia Business School (escola de negócios da Universidade de Columbia, reputada como a 7ª das melhores escolas de negócios do mundo), a velocidade com que a tecnologia está avançando, particularmente em IA, é preocupante e sugere que não se pode simplesmente confiar na autorregulação da indústria.

Hoffman, a despeito das divergências, mantém-se firme em sua missão de promover a IA e inspirar confiança onde ela está quebrada. Para ele, é necessário aprender para um estado melhor. E o investidor está empregando todos os seus esforços nesse sentido, investindo, conduzindo mais podcasts e conversando com autoridades governamentais. Afinal, como ele mesmo coloca: trata-se de “um otimista em tecnologia, não um utópico em tecnologia”.

Cabe chamar a atenção, contudo, como fez a reportagem do The New York Times, ao fato de que Hoffman disse que sua abordagem foi moldada, em parte, por seu acesso a “fluxos de informações de altíssima qualidade”. Alguns, segundo o próprio, são por meio de seus relacionamentos comerciais com a Microsoft, a OpenAI e outros.

Outros, por meio de várias filantropias, como o Índice de IA, uma iniciativa independente do Instituto Stanford para Inteligência Artificial centrada no ser humano (HAI). Mas, parte considerável também por meio de suas conexões políticas. O próprio Hoffman admite que despejou milhões de dólares em campanhas democratas e comitês de ação política. O ex-presidente norte-americano Barack Obama é um amigo, nas palavras do bilionário.

Por enquanto, Hoffman está usando sua influência para pintar uma imagem do progresso impulsionado pela IA. Especialistas em tecnologia torcem por seu “líder de torcida”. O resto do mundo provavelmente é mais cético. Tanto que uma pesquisa recente conduzida pela Reuters e pelo Instituto Ipsos mostrou que 61% dos americanos acreditam que a I.A. pode ser uma ameaça para a humanidade.

Fonte: The New York Times