Acusações de uso do ChatGPT colocam diplomas em risco em universidade

Educadores devem se adaptar à tecnologia, como ocorreu com a introdução das calculadoras?

No último final de semana, a Texas A&M University at Commerce estava em clima de festa com os pais dos alunos celebrando a formatura dos seus filhos. No entanto, a alegria foi interrompida para a turma de ciência animal do professor Jared Mumm, quando um e-mail acusando os alunos de utilizar o chatbot de inteligência artificial ChatGPT para trapacear em suas redações circulou entre os estudantes.

A ameaça de reprovação na disciplina e o consequente risco aos diplomas causaram um clima de pânico entre os alunos. Uma das estudantes, que se formou no fim de semana, conseguiu provar sua inocência reunindo evidências de que suas redações foram escritas no Google Docs, apresentando carimbos de data e hora que atestavam seu trabalho.

O caso expõe a complexidade do uso de IA no ambiente acadêmico. Apesar da OpenAI, fabricante do ChatGPT, afirmar que a ferramenta não pode ser utilizada para detectar escrita gerada por IA, a suspeita levantada pelo professor põe em questão a autenticidade e o mérito do trabalho dos alunos.

Com a ascensão da inteligência artificial, chatbots como o ChatGPT são capazes de criar textos e conteúdo que parecem feitos por humanos, dificultando a detecção da origem. O caso na Texas A&M University expõe a ausência de protocolos claros sobre “como” e “quando” usar chatbots em sala de aula, levantando questões éticas e práticas sobre a aplicação dessas tecnologias no ensino.

Em resposta à situação, a universidade informou que está desenvolvendo políticas para lidar com o uso (ou mau uso) da tecnologia de IA na sala de aula. A afirmação evidencia o dilema enfrentado pelos educadores em relação à adaptação à tecnologia ou a tentativa de limitar suas formas de uso.

O professor Bruce Schneier, da Kennedy School of Government, da Universidade de Harvard, argumenta que a tentativa de reprimir o uso de chatbots de IA em salas de aula é equivocada. Ele sugere que os educadores devem se adaptar à tecnologia, como ocorreu com a introdução das calculadoras. Schneier afirma que será difícil fazer com que os alunos parem de usar IA para escrever os primeiros rascunhos de redações, e que os currículos deveriam ser adaptados para contemplar projetos ou trabalhos interativos.

Por fim, o episódio na Texas A&M University at Commerce serve como um alerta para o setor educacional, inclusive o brasileiro, sobre a necessidade de se discutir e estabelecer diretrizes claras para o uso de ferramentas de inteligência artificial no contexto acadêmico, de modo a evitar situações semelhantes no futuro.

Fonte: The Washington Post