Chave fornecida por JF Games PR

Back Then é um jogo narrativo indie que coloca o jogador no papel de Thomas Eilian, um idoso que vive com Alzheimer. Desenvolvido pela Outriders Studio, o jogo utiliza uma perspectiva em primeira pessoa para oferecer uma experiência introspectiva e emocional. A narrativa foca na luta de Thomas com as memórias confusas e o impacto da doença em sua vida.

"As memórias são aprendizados, sorrisos e também lágrimas. Mas o que somos sem elas?"
~

História

Back Then é um jogo com temática complicada e que talvez não seja para todos os públicos, aqui, o jogador é introduzido ao mundo de Thomas Eilian, um escritor idoso que enfrenta os desafios da doença de Alzheimer – é um transtorno neurodegenerativo que causa a perda progressiva de neurônios e funções mentais.

A narrativa é profundamente introspectiva e conduzida pela perspectiva de Thomas, permitindo aos jogadores explorar tanto seu ambiente físico quanto sua mente. O jogo começa na casa de Thomas, onde ele vive preso a uma cadeira de rodas, e logo revela os impactos emocionais e cognitivos da doença, tanto para ele quanto para seus entes queridos.

Aqui, compartilho uma experiência pessoal: vivi toda a minha adolescência acompanhando o avanço dessa doença na minha avó, desde os primeiros sinais até o momento em que ela nos deixou. Embora a gente sempre tenha uma ideia — mesmo que vaga — de como deve ser enfrentar algo assim, vivenciar isso pelos olhos de outra pessoa, ainda que por meio de um jogo, pode ser profundamente impactante. Já nos primeiros diálogos do jogo, senti o peso das palavras, pois muitas delas me trouxeram lembranças de momentos que também fizeram parte da minha vida. Essa experiência me fez refletir não apenas sobre o que vivemos juntos, mas também sobre a complexidade emocional que a doença impõe tanto a quem a enfrenta quanto aos que estão ao redor.

Gameplay

Nós somos colocados na perspectiva de Thomas Eilian, um escritor idoso diagnosticado com Alzheimer, assim, somos colocados em uma jornada de exploração introspectiva, centrada no impacto das memórias e da perda delas.

A estrutura de gameplay é simples e direta, focada na exploração e interação com objetos e ambientes que desencadeiam lembranças do protagonista. Cada elemento no mundo, como livros, fotografias e outros itens pessoais, funciona como um catalisador para revelar fragmentos da vida de Thomas. Essas interações são cuidadosamente projetadas para evocar reflexões profundas e uma conexão emocional com o jogador.

Além disso, o jogo incorpora elementos de resolução de quebra-cabeças que são integrados à narrativa. Esses desafios não são projetados apenas para testar habilidades, mas também para reforçar a sensação de confusão e fragilidade que vem com a progressão da doença do protagonista. Essa mecânica reforça o tema principal do jogo, permitindo que o jogador experimente, mesmo que de forma limitada, o que é viver com Alzheimer.

O ritmo do jogo é deliberadamente mais lento, promovendo um tom contemplativo e reflexivo. Back Then não utiliza mecânicas tradicionais de ação ou pressão por tempo; em vez disso, foca em permitir que o jogador mergulhe na narrativa e no mundo subjetivo do personagem principal.

Essa abordagem diferente faz de Back Then mais do que um jogo; é uma jornada sensorial e emocional que oferece uma nova perspectiva sobre os desafios do Alzheimer, promovendo empatia e compreensão através de uma jogabilidade cuidadosamente projetada.

@ramosbuenojoga

Back Then, o começo. Jogo que aborda uma temática diferente, onde podemos sentir os danos causados pelo Alzheimer. Alzheimer backthen steam pcgamer gamesnotiktok gameplay brasil jogo jogos gaming games gamer gamers gamingontiktok gamestiktok videogames pc pcgaming

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Direção de arte

Com uma interface minimalista, o jogo elimina distrações visuais, contribuindo para uma experiência imersiva. Isso combina com uma trilha sonora melancólica e sons ambientais que refletem o estado emocional de Thomas, criando uma atmosfera profundamente envolvente.

A direção de arte de Back Then é uma parte fundamental para transmitir a experiência emocional que o jogo se propõe a oferecer. A ambientação é cuidadosamente construída para refletir a mente do protagonista. A casa de Thomas, onde grande parte do jogo ocorre, é detalhada e rica em elementos visuais que evocam um lar vivido, com notas espalhadas e decoração que conta uma história por si só. Esses detalhes ajudam a criar uma atmosfera íntima e melancólica, essencial para imergir o jogador na narrativa emocional do jogo.

O design utiliza uma paleta de cores suaves e iluminação atmosférica para criar um sentimento de nostalgia e, ao mesmo tempo, de confusão. Elementos visuais frequentemente mudam para simbolizar a perda de memória e a fragmentação da mente do protagonista, criando cenários que oscilam entre a realidade e o abstrato. Esse uso criativo de efeitos visuais reforça a sensação de imersão no estado mental de Thomas.

A perspectiva em primeira pessoa contribui para a conexão com a experiência do personagem, enquanto o ritmo lento e deliberado do movimento, devido à cadeira de rodas de Thomas, intensifica a sensação de vulnerabilidade e limitações.

Minhas observações

Estamos falando de um jogo com mecânicas simples, mas com uma temática complexa e emocionalmente densa. Desde já, é importante destacar que nem todos vão apreciar essa experiência, o que é compreensível. Back Then adota um ritmo deliberadamente lento, refletindo tanto as limitações do protagonista, que utiliza uma cadeira de rodas, quanto o peso simbólico da idade e da progressão da doença de Alzheimer. Esse ritmo é essencial para criar a atmosfera imersiva e introspectiva que o jogo busca oferecer. No entanto, se você não tem paciência para jogos que se desenvolvem em um compasso mais devagar, talvez esta experiência não seja para você.

Durante a gameplay, identifiquei alguns problemas técnicos. Um dos mais perceptíveis foi relacionado à movimentação e à precisão nas ações: o centro da tela não estava alinhado corretamente com o indicador do mouse. Isso dava a impressão de uma discrepância de resolução entre o jogo e minha configuração de tela, embora esse não fosse o caso. São pequenos detalhes que podem prejudicar a fluidez e imersão da experiência.

Outra questão a ser mencionada é o reaproveitamento de texturas, que não chega a ser um problema por si só. No entanto, em um jogo cujo protagonista é um escritor e leitor ávido, foi decepcionante notar que os livros espalhados pelas prateleiras eram quase sempre os mesmos. Além disso, nenhum dos livros representados era baseado em obras reais. Clássicos literários, que estão em domínio público e poderiam ser utilizados sem custo, seriam uma adição que agregaria autenticidade ao cenário e reforçaria a personalidade de Thomas.

Por fim, há uma falha considerável na acessibilidade. Apesar da temática universal do Alzheimer, Back Then não conta com localização para idiomas amplamente falados, como espanhol e português, o que limita sua capacidade de alcançar e impactar um público maior. Essa falta de suporte linguístico pode impedir que jogadores compreendam plenamente a narrativa e a atmosfera emocional do jogo, algo essencial em uma obra tão dependente de sua história. Esse aspecto, infelizmente, enfraquece o potencial do título de sensibilizar e conscientizar sobre o tema em uma escala global.

Back Then

Back Then é uma obra introspectiva que foge do convencional, usando sua simplicidade mecânica para explorar uma temática profunda e delicada: os desafios emocionais e cognitivos do Alzheimer. Ao colocar os jogadores na pele de Thomas Eilian, o jogo cria uma experiência que vai além do entretenimento, funcionando como um convite à reflexão sobre memória, identidade e perda. A narrativa é poderosa e conduzida por interações significativas, enquanto a direção de arte e a trilha sonora ampliam o impacto emocional.

No entanto, apesar de seu potencial imersivo, o título sofre com algumas limitações técnicas e falta de acessibilidade. Problemas como bugs de interface e a ausência de localização para idiomas amplamente falados acabam restringindo sua capacidade de alcançar uma audiência maior. 

Ainda assim, Back Then cumpre sua promessa de oferecer uma perspectiva sensível e única sobre o Alzheimer. Para aqueles dispostos a abraçar seu ritmo lento e mergulhar em sua narrativa emocional, o jogo se torna uma experiência marcante, capaz de despertar empatia e novas reflexões sobre um tema que afeta tantas vidas.

7,5