Amy Kolsky, uma viajante experiente, procurou um guia sobre a França na Amazon e se deparou com uma oferta tentadora: um livro altamente avaliado, assinado por Mike Steves. Por um preço menor, as promessas eram muitas. No entanto, a realidade trouxe decepção.
Ao receber o guia, Amy notou descrições vagas, textos repetitivos e a ausência de itinerários detalhados. A sensação? Como se alguém tivesse copiado informações genéricas da internet. Infelizmente, Kolsky havia sido vítima de um fenômeno recente: guias de má qualidade gerados por Inteligência Artificial (IA), auto publicados na Amazon e incentivados por avaliações falsas.
Essa nova forma de “literatura de viagem” é uma combinação de várias ferramentas modernas: aplicativos de IA que geram textos, plataformas de autopublicação sem barreiras contra o uso de IA, e a possibilidade de adquirir e postar avaliações online falsas.
Essas publicações mal-intencionadas estão dominando os rankings de pesquisa na Amazon, muitas vezes até recebendo endossos da própria plataforma.
Não se limita apenas a guias de viagem. O jornal The New York Times, por exemplo, encontrou livros similares sobre culinária, programação, jardinagem e muitas outras categorias, todos sugerindo a mão (ou o código, melhor dizendo) da IA na sua composição.
A Amazon permaneceu em grande parte em silêncio sobre o problema. Lindsay Hamilton, porta-voz da empresa, afirmou que todos os editores da loja devem seguir diretrizes de conteúdo, garantindo que os padrões sejam mantidos.
O The New York Times utilizou uma ferramenta específica para testar trechos dos guias suspeitos, e os resultados foram reveladores: a maioria dos trechos pontuou perfeitamente, indicando que foram quase certamente produzidos por inteligência artificial.
As marcas tradicionais, como Rick Steves e Frommer’s, têm sofrido com essa nova concorrência. Apesar da popularidade dos guias digitais e das recomendações online, muitos viajantes ainda confiam nos guias impressos tradicionais para planejar suas viagens.
Rick Steves, renomado escritor de guias de viagem, minimizou a ameaça da IA, enfatizando a importância da experiência real de viagem. Por outro lado, outro especialista, Pauline Frommer, expressou preocupação, já que a proliferação de guias gerados por IA poderia prejudicar as vendas de marcas estabelecidas.
A questão não é apenas monetária. Guias de má qualidade podem ser não apenas decepcionantes, mas também perigosos. Omissões importantes ou informações desatualizadas podem direcionar viajantes para áreas inseguras.
As avaliações online, que muitos consumidores confiam para tomar decisões de compra, também são um problema. Muitas das críticas são vagas, irrelevantes ou claramente falsas.
Pauline Frommer aponta para o perigo dessas avaliações, dizendo que elas estão enganando as pessoas, fazendo-as desperdiçar dinheiro e mantendo-as longe dos verdadeiros guias de viagem.
Em meio a esse cenário de incerteza, uma coisa é clara: a era digital trouxe avanços incríveis, mas também novos desafios. É essencial estar informado e ser crítico para não cair em armadilhas modernas.