Nova lei do Canadá faz gigantes da tecnologia repensarem compartilhamento de notícias

Aprovação da Lei de Notícias Online no Canadá tensiona relação entre Google, Facebook e veículos de comunicação, ameaçando o acesso a notícias para os usuários

O parlamento canadense aprovou uma legislação que promete abalar o ecossistema digital, tensionando a relação entre gigantes da tecnologia e veículos de comunicação. A Lei de Notícias Online obriga empresas como Google e Facebook a remunerar os meios de comunicação por links de suas matérias compartilhados, levando a Meta, proprietária do Facebook e Instagram, a considerar a retirada de notícias de suas plataformas no país. A informação foi originalmente divulgada pelo The New York Times.

A nova lei, aprovada na última quinta-feira, é a mais recente ação de governos globais no sentido de obrigar grandes corporações tecnológicas a pagar por conteúdos de notícias que são compartilhados em suas plataformas. Uma campanha que tem encontrado forte resistência por parte destas empresas.

O mecanismo da nova lei canadense obriga as empresas de mídia social e motores de busca a participarem de um processo de negociação e arbitragem obrigatória para licenciar o conteúdo de notícias para seu uso. A medida, inspirada em uma lei semelhante aprovada na Austrália há dois anos, tem como objetivo “melhorar a justiça no mercado canadense de notícias digitais e contribuir para sua sustentabilidade”, conforme resumo oficial.

Apesar da aprovação, o momento exato em que a lei entrará em vigor ainda é incerto. Entusiastas da legislação a consideram uma vitória para a mídia jornalística, que busca maneiras de compensar a queda na receita de publicidade, fenômeno associado ao domínio do mercado de publicidade online pelas empresas do Vale do Silício.

google gigante da tecnologia

Pablo Rodriguez, ministro do Patrimônio canadense no governo do primeiro-ministro Justin Trudeau, defendeu a lei em suas redes sociais. “Uma imprensa forte, independente e livre é fundamental para nossa democracia. O Online News Act ajudará a garantir que os gigantes da tecnologia negociem acordos justos e equitativos com organizações de notícias.”

No entanto, do outro lado do espectro, as empresas de tecnologia enxergam a situação de maneira bastante diferente. A Meta já havia advertido os legisladores que, se a legislação fosse aprovada, cessaria a disponibilização de notícias em suas plataformas para usuários canadenses. Agora, planeja executar essa ação.

Em comunicado, a Meta declarou: “Compartilhamos repetidamente que, para cumprir o Projeto de Lei C-18, aprovado hoje no Parlamento, o conteúdo dos meios de comunicação, incluindo editores e emissoras de notícias, não estará mais disponível para pessoas que acessam nossas plataformas no Canadá”. A empresa ressaltou, contudo, que mudanças que afetam o conteúdo de notícias não influenciarão outros produtos e serviços usados para verificação de fatos, conexões sociais e crescimento de negócios.

Por sua vez, o Google classificou a nova legislação como “impraticável”, propondo “soluções ponderadas e pragmáticas” para sua melhoria. A empresa argumenta que o debate em torno da legislação criou expectativas irrealistas entre políticos e editores de notícias de um “subsídio ilimitado para a mídia canadense”. Sugeriu, entre outras medidas, que as empresas de tecnologia pagassem por “exibir” o conteúdo de notícias, em vez de criar links para ele.

Mark Zuckerberg - Ceo Meta e Facebook
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Mark Zuckerberg – CEO da Meta / Reprodução

Batalhas semelhantes vêm ocorrendo em diversos países nos últimos anos. Na União Europeia, na Austrália e nos Estados Unidos, leis e processos judiciais visam obrigar gigantes tecnológicos a compensar organizações de notícias pelo uso de seu conteúdo.

Enquanto essas discussões globais se desenrolam, há quem acredite que a lei canadense pode sair pela culatra. Michael Geist, professor de direito da Universidade de Ottawa, especializado em regulamentações que governam a Internet e o comércio eletrônico, argumenta que o esforço prejudicará desproporcionalmente os meios de comunicação menores e independentes, favorecendo fontes de qualidade inferior. Segundo ele, “O pior de tudo: era totalmente previsível e evitável”.

Com esse cenário em constante evolução, o equilíbrio de forças entre as gigantes da tecnologia e os meios de comunicação convencionais é um tema que promete permanecer no centro do debate público. Sua resolução definirá a forma como o acesso a notícias se dará no futuro próximo.

Fonte: The New York Times