No universo da medicina, a realidade virtual (VR) está se tornando mais do que uma simples inovação tecnológica. Está transformando a maneira como os médicos são treinados e como os pacientes são tratados, especialmente no que diz respeito ao gerenciamento da dor.
O médico americano Jake Shine, por exemplo, residente de terceiro ano em ortopedia, é um testemunho vivo dessa revolução. Poucos dias antes de sua primeira grande cirurgia de substituição de ombro, ele não estava apenas revisando anotações ou assistindo a vídeos. Em vez disso, colocou um headset de realidade virtual e mergulhou em uma simulação 3D do procedimento.
Segundo reportagem da rede americana CNBC, a tecnologia fornecida pelo Quest 2, da Meta, permitiu que Shine e seu médico supervisor praticassem a cirurgia em um ambiente virtual, sem riscos para o paciente. E o resultado? Uma cirurgia bem-sucedida e uma recuperação completa para o paciente.
Mas a VR não está apenas revolucionando o treinamento cirúrgico. Ela também está mostrando seu valor no tratamento da dor. “É muito difícil manter o controle da dor quando você está em um mundo cibernético fantástico”, disse o médico Brennan Spiegel, do Cedars-Sinai, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A capacidade da VR de desviar a atenção do paciente de suas experiências dolorosas é um avanço significativo no gerenciamento da dor.
Além disso, escolas médicas estão começando a reconhecer o potencial da VR. No Kettering Health Dayton, hospital universitário com 344 leitos, localizado no lado norte de Dayton, Ohio, EUA, a realidade virtual tornou-se um componente essencial do currículo para residentes de ortopedia. A tecnologia permite que eles pratiquem procedimentos complexos em um ambiente seguro antes de entrar em uma sala de cirurgia real.
No entanto, como toda inovação, a VR tem seus desafios. O custo ainda é um obstáculo significativo para a adoção em massa. E, enquanto empresas como a Meta veem o potencial da VR na saúde, a tecnologia ainda é vista principalmente como uma ferramenta de entretenimento pelo público em geral.
A Apple, por exemplo, está se preparando para entrar no mercado de VR com o Vision Pro de US $3.500. E a Meta, anteriormente conhecida como Facebook, planeja lançar o Meta Quest 3 em breve. Ambas as empresas veem o potencial da VR além do entretenimento, mas será que o setor de saúde está pronto para abraçar essa tecnologia em grande escala?
Caitlin Rawlins, do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA, acredita que sim. Ela viu em primeira mão o poder da VR no tratamento da dor. Rawlins descreveu um paciente, um veterano do Exército, que, após uma sessão de VR, foi transformado de um homem “ranzinza” preso a uma cadeira de rodas em uma “pessoa completamente diferente”.
Segundo o relato dela e de outros pesquisadores, a realidade virtual está, sem dúvida, moldando o futuro da medicina. Mas, como o médico Richard Miller, da Universidade de Rochester, em Nova Iorque, aponta, a tecnologia precisa evoluir e se adaptar às mudanças nas práticas e técnicas cirúrgicas.
Ainda assim, uma coisa é certa: a VR chegou para ficar. E, à medida que a tecnologia avança, acredita-se que médicos e pacientes se beneficiarão de maneiras que, até há algum tempo atrás, só poderíamos imaginar.