A chegada de avançados chatbots de inteligência artificial (IA) ao universo acadêmico provocou um misto de alvoroço e preocupação entre educadores e instituições. De acordo com o colunista de tecnologia do The New York Times, Kevin Roose, a situação tomou proporções significativas com o lançamento do ChatGPT.
Quando o ChatGPT foi introduzido, no fim do ano passado, instituições educacionais ao redor do mundo (e aqui no Brasil não foi diferente) sentiram o impacto desta inovação. Em meio ao ano letivo, professores tiveram que se deparar com uma ferramenta que, nas mãos dos alunos, podia escrever ensaios de alta qualidade e solucionar problemas complexos. Roose descreve esse sentimento como se as escolas “tivessem sido atingidas por um asteroide”.
Em resposta imediata, algumas instituições de ensino optaram por proibir o uso de ferramentas como o ChatGPT. Entretanto, essa abordagem mostrou-se ineficaz, pois, conforme observou Roose, os alunos continuaram acessando essas ferramentas em seus dispositivos pessoais, levando diversas instituições a retirarem as proibições.
A discussão se intensificou com o retorno às aulas. Educadores, gestores e acadêmicos buscam compreender e delinear uma postura frente a essa revolução tecnológica. A pergunta central é: Como utilizar essa tecnologia a favor do aprendizado, ao invés de ver nela uma ameaça constante de desonestidade acadêmica?
Roose, em suas observações, sugere que professores, principalmente os de ensino médio e universitário, devem partir do pressuposto de que todos os alunos usam o ChatGPT e outras ferramentas similares. Tal perspectiva, segundo ele, estaria mais próxima da realidade do que muitos imaginam, corroborado por declarações de estudantes, como a de um aluno da Universidade de Columbia que, em um ensaio, destacou o uso frequente do ChatGPT.
Um ponto de alerta destacado por Roose refere-se à ineficiência dos detectores de IA para identificar trabalhos produzidos por chatbots. Apesar da promessa de identificar escritas geradas artificialmente, tais ferramentas muitas vezes erram em suas avaliações, evidenciando a necessidade de abordagens educacionais mais modernas.
Ao invés de lutar contra essa maré tecnológica, o colunista sugere uma postura de entendimento e adaptação. Ele menciona que, ao invés de focar nos defeitos da IA generativa, os professores deveriam explorar suas capacidades. A crítica, que outrora se centrava na imprecisão dos chatbots, perdeu espaço, dado que modelos mais recentes, como o GPT-4, alcançam resultados impressionantes.
Para facilitar essa adaptação, organizações, como o “AI Education Project”, liderado pelo americano Alex Kotran, oferecem recursos e planos de aula focados em IA. Essas iniciativas buscam ajudar professores a se familiarizarem e até mesmo a incorporarem essas ferramentas em suas metodologias.
Pode contrariar alguns, mas a chegada dos chatbots de IA ao cenário educacional pode ser vista como uma oportunidade, e não necessariamente como uma ameaça. Conforme pontuado por Roose, talvez esteja na hora de as escolas reavaliarem o que realmente importa na educação. Se habilidades como empatia, criatividade e colaboração são insubstituíveis, o foco do ensino deve se voltar para elas, aproveitando a tecnologia para enriquecer, e não diminuir, o processo educativo.