O mercado e o mundo financeiro estão em uma encruzilhada tecnológica. Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) tem demonstrado um potencial significativo para transformar a indústria, oferecendo oportunidades para automação, análise aprimorada e assistência personalizada. No entanto, substituir o toque humano nos conselhos financeiros por uma IA é uma questão mais complexa, conforme discutido pelo professor emérito na UCLA, Shlomo Benartzi, em sua recente contribuição ao The Wall Street Journal.
Benartzi discute cinco qualidades essenciais para um aconselhamento financeiro eficaz e avalia como a IA, especificamente o ChatGPT e seus concorrentes, se alinham a essas características. Embora as vantagens dos consultores de IA sejam evidentes, com custos reduzidos e disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por semana, ainda há desafios significativos a serem superados.
Um dos desafios é a redução de viés (debiasing). Os consultores financeiros humanos ajudam seus clientes a evitar erros custosos causados por tendências comportamentais. No entanto, um estudo liderado pelo pesquisador Yang Chen, na Queens University, no Canadá, revelou que o ChatGPT exibe muitas das mesmas tendências comportamentais que um consultor financeiro humano tenta minimizar, como a tendência de dobrar a aposta após perdas.
Além disso, a IA tem demonstrado uma alta taxa de superconfiança, o que pode amplificar vieses existentes. Para mitigar esses problemas, Benartzi sugere a criação de metarregras que ajudem a IA a superar esses vieses, semelhante a uma auditoria interna, onde o software é forçado a reconsiderar suas recomendações.
Outro atributo crítico para um consultor é a empatia. Surpreendentemente, estudos mostraram que o ChatGPT é excelente em demonstrar empatia, superando até mesmo profissionais humanos em algumas circunstâncias. Isso sugere que a IA pode executar muito bem algumas tarefas críticas de consultoria financeira.
No entanto, a precisão é onde os bots ainda enfrentam dificuldades significativas. Os consultores de IA tendem a ser pouco confiáveis e cometem muitos erros, como apresentar análises baseadas em dados incorretos. Benartzi sugere a integração de IA com bancos de dados financeiros confiáveis, como o Morningstar (empresa provedora independente de dados e análise de investimentos com sede em Chicago, Illinois, nos Estados Unidos), para garantir recomendações precisas.
A questão do melhor interesse também é abordada. Consultores humanos são obrigados a atuar no melhor interesse de seus clientes, evitando conflitos de interesse. Enquanto a IA, teoricamente, é menos propensa a conflitos de interesse, a realidade pode ser diferente, e a transparência é vista como um mecanismo crítico para evitar problemas.
A consistência é a última qualidade discutida. Enquanto consultores humanos podem variar suas recomendações, a IA tem o potencial de oferecer conselhos consistentes, baseados em dados e preferências do cliente, o que pode ser uma vantagem significativa.
Benartzi especula sobre um futuro onde a IA e os consultores humanos trabalham em conjunto, semelhante ao domínio médico em alguns países, onde softwares inteligentes e médicos têm colaborado como uma equipe híbrida para melhorar a qualidade do atendimento. Isso sugere um modelo onde a IA pode expandir o pensamento humano, mesmo quando não consegue encontrar a resposta por si só.
Neste sentido, a IA pode desempenhar um papel significativo no futuro dos conselhos financeiros, oferecendo a possibilidade de conselhos 24 horas por dia, sete dias por semana, para aqueles que não podem pagar por um consultor humano. No entanto, como os pilotos automáticos não deixaram os pilotos desempregados, os consultores financeiros humanos ainda têm um papel essencial a desempenhar.
A visão de Benartzi é otimista, vendo a IA não como uma ameaça, mas como uma ferramenta que pode auxiliar consultores financeiros a atender mais pessoas com conselhos mais precisos e personalizados. Isso, pelo menos em tese, abre um novo capítulo na indústria financeira, onde a colaboração entre humanos e IA pode levar a um aconselhamento financeiro mais inclusivo e eficaz.
Fonte: The Wall Street Journal