O Twitter já foi uma fonte primária de dados para a pesquisa acadêmica, dando a cientistas uma visão única sobre o comportamento humano. Contudo, recentes mudanças implementadas pelo novo proprietário, Elon Musk, vêm colocando esse papel em risco.
Até o período pré-Musk, a API do Twitter – que permite a coleta de dados por desenvolvedores terceirizados – era considerada uma das melhores da internet. Foi a partir dela que surgiram estudos sobre diversos temas, desde respostas a desastres climáticos até combate à desinformação online. No entanto, a partir de fevereiro, o Twitter decidiu encerrar o acesso gratuito à sua API, lançando níveis pagos no mês seguinte.
O corte no acesso gratuito tem causado problemas para diferentes grupos de usuários, incluindo agências de transporte público e equipes de emergência, mas os pesquisadores acadêmicos estão entre os mais atingidos. Para estes, o acesso à API tornou-se extremamente caro, com preços chegando a US$ 42.000 mensais para uma conta empresarial. Como resultado, pesquisadores perderam um ponto de vista importante sobre o comportamento humano e até o momento, não há uma alternativa clara.
O cientista Gordon Pennycook, professor associado de ciência comportamental da Universidade de Regina, explica que a pesquisa com dados de mídia social era principalmente baseada no Twitter, sendo essencial para estudos sobre estratégias para evitar a disseminação de desinformação online.
A situação se tornou ainda mais complicada quando o Twitter comunicou alguns pesquisadores que eles deveriam deletar os dados já coletados, a menos que pagassem por uma conta corporativa, um movimento comparado à “queima de livros” no contexto do big data.
Os pesquisadores lamentam o fato de que a plataforma, antes considerada uma das mais transparentes e acessíveis, agora dificulta profundamente a pesquisa acadêmica. Eles temem que isso possa sinalizar o início de uma tendência em que empresas estão cada vez menos dispostas a compartilhar dados por meio de suas APIs.
A situação representa um retrocesso para o campo da pesquisa e levanta preocupações sobre o futuro do conhecimento na era digital. Como Pennycook ressalta: “Se a pesquisa não for tão boa, não seremos capazes de saber tanto sobre o mundo quanto sabíamos antes”.