Dentro do universo de Watchmen, criado por Alan Moore e Dave Gibbons, poucos personagens possuem tanta complexidade e camadas como Adrian Veidt, conhecido como Ozymandias. Ele é, ao mesmo tempo, herói e vilão, uma figura que desperta fascínio e repulsa por seus métodos e visão de mundo.
Adrian Veidt: O caminho para a grandeza
Nascido em 1939, Adrian Veidt é apresentado como um prodígio desde cedo, possuindo uma inteligência e disciplina muito acima da média. Filho de imigrantes alemães, sua infância foi marcada por uma busca incessante por conhecimento e pela superação das expectativas alheias. Após a morte de seus pais, Adrian doou sua herança para viver como um asceta, inspirado pela figura de Alexandre, o Grande. Ele percorreu o mesmo caminho que Alexandre em sua conquista do mundo antigo, absorvendo culturas e ideologias. Essa jornada o moldou como um homem obcecado por grandes feitos e pelo legado histórico.
Ao retornar aos Estados Unidos, Veidt construiu um império com base em sua identidade como Ozymandias, adotando o nome do rei egípcio como símbolo de sua visão grandiosa e monumental. Ele utilizou sua riqueza e influência para promover mudanças sociais, ao mesmo tempo que estabelecia uma persona pública impecável como um benfeitor altruísta.
A filosofia de Ozymandias
A essência de Ozymandias está em sua crença no utilitarismo extremo: a ideia de que o bem maior justifica quaisquer sacrifícios. Ele enxerga a humanidade como um organismo coletivo que precisa de intervenção cirúrgica para sobreviver. Essa visão culmina em seu plano audacioso e terrível de unificar o mundo por meio de uma catástrofe fabricada.
Adrian cria um “inimigo comum” para a humanidade — uma falsa invasão alienígena que dizima milhões, mas que, em sua concepção, previne um holocausto nuclear iminente. Esse ato coloca em questão os limites da moralidade: é possível justificar genocídio em nome da paz mundial? A obra não responde diretamente, deixando essa reflexão para o público.
Ozymandias e seu legado
No contexto de Watchmen, Adrian Veidt é o arquétipo do “homem mais inteligente do mundo”, mas também o mais isolado emocionalmente. Ele se destaca entre os demais vigilantes pela ausência de insegurança ou vulnerabilidade perceptível. Enquanto personagens como Rorschach lutam por justiça pessoal e visceral, e Doutor Manhattan transcende a humanidade, Ozymandias se coloca como um arquiteto do destino humano.
Sua interação mais marcante ocorre com Rorschach e os outros vigilantes no clímax da história. Quando seu plano é finalmente revelado, a reação dos personagens varia de indignação à aceitação resignada. O próprio Adrian parece carregado por um peso moral, ainda que mantenha sua convicção de estar certo. “Eu salvei o mundo”, ele afirma, ciente de que seu legado será ambíguo e controverso.
Ozymandias transcendeu as páginas de Watchmen para se tornar um dos personagens mais discutidos e analisados da cultura pop. Sua figura é frequentemente usada como referência em debates sobre ética, poder e o papel de indivíduos excepcionais na história. O retrato de Adrian Veidt nas adaptações de Watchmen, tanto no filme de Zack Snyder quanto na série da HBO, reforça seu status como um ícone cultural multifacetado.
Na série da HBO, ambientada décadas após os eventos da graphic novel, Ozymandias é interpretado por Jeremy Irons. Essa versão do personagem reflete um homem idoso e isolado, ainda buscando relevância em um mundo que mudou além de seu controle. Sua caracterização captura a essência trágica de um visionário que pagou o preço por sua própria ambição.
Adrian Veidt é uma figura que sintetiza as maiores aspirações e os piores temores da humanidade. Ele personifica a busca incessante pela perfeição e pelo controle total, ao custo de uma desconexão com os valores humanos básicos. Seu legado é um lembrete poderoso de que grandes feitos nem sempre vêm acompanhados de grandes virtudes.
Ao final de Watchmen, Ozymandias se pergunta se seu plano realmente trouxe paz duradoura. Essa dúvida ecoa em nós, leitores, destacando a ambiguidade moral que define não apenas Adrian Veidt, mas toda a obra de Moore e Gibbons. Ele é um herói trágico ou um vilão pragmático? A resposta, como o próprio personagem, permanece em um terreno nebuloso, aberto à interpretação.