No recente Bloomberg Technology Summit, evento realizado na última quinta-feira (22) em São Francisco (Califórnia), por iniciativa da agência de notícias Bloomberg, um tema predominou: a Inteligência Artificial (IA). Líderes de empresas de IA no palco, como Mustafa Suleyman, cofundador da DeepMind e da Inflection AI, e Sam Altman, CEO da OpenAI, pintaram um futuro onde a inteligência artificial terá um impacto profundo na vida da humanidade. Mas, como o Bloomberg apontou em sua edição desta sexta-feira (23), há mais nessa narrativa do que os discursos aparentam.
“A transformação mais radical de nossas vidas”, como Suleyman a descreve, e o “maior fenômeno econômico”, nas palavras de Emad Mostaque, CEO da Stability AI, são declarações que seguem a longa tradição da indústria de tecnologia em apresentar cada inovação como um salto gigantesco para a humanidade. Embora a IA possa efetivamente trazer mudanças radicais, a recente experiência indica que se deve questionar a motivação por trás de tais afirmações bombásticas.
Os líderes das empresas de pesquisa em inteligência artificial têm um incentivo muito básico para alimentar essa empolgação: é bom para seus negócios. Quando as pessoas acreditam que a IA vai revolucionar o mundo, as empresas de inteligência artificial se beneficiam, mesmo que essa revolução venha com um toque de medo. Líderes como Altman reconhecem prontamente os perigos da IA, afirmando que “há muitas maneiras de dar errado”.
Essa visão apocalíptica da inteligência artificial não só intensifica as apostas para a indústria, como também facilita outros aspectos da gestão do negócio, como arrecadação de fundos, atração de clientes e recrutamento de engenheiros. Além disso, alimenta o medo humano primordial de extinção, uma ideia cativante que atrai a atenção.
A IA atinge o amor das pessoas pelo drama, emoção e controvérsia de alto risco. No entanto, ao analisar as notícias e previsões sobre inteligência artificial, deve-se ter em mente como o ser humano está programado para acreditar na importância do próprio trabalho, mesmo que este seja trivial.
Em pesquisa sobre a obsessão do Vale do Silício com a perspectiva de um apocalipse de IA, Ellen Huet, repórter do Bloomberg News, entrevistou pessoas que acreditavam que evitar tal fim era sua principal missão. Eles descreveram como era fascinante sentir que suas escolhas e esforços poderiam afetar a direção da humanidade.
No entanto, o investidor Reid Hoffman alertou no Summit que o medo da destruição humana pode ser uma distração. Na opinião dele, precisamos estar atentos aos efeitos mais imediatos da IA, como seu potencial mau uso por humanos mal-intencionados.
Afinal, é preciso equilíbrio ao lidar com a inteligência artificial. Não se pode deixar, por exemplo, que o medo de um eventual apocalipse cegue a humanidade para as oportunidades e desafios mais imediatos. Por consequência, como admite o Bloomberg, não se pode permitir que líderes de pesquisas em IA manipulem as emoções das pessoas para promover seus próprios negócios.